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A língua de Portugal nos tempos modernos pode ser observada com instrumentos que não estão ao dispor da história da língua antiga e clássica (a que foram dedicados os dois ciclos antecedentes): além da proximidade temporal, que gera sensações de maior familiaridade com a nossa experiência actual, e do discurso em tempo real de gramáticos e linguistas que a vão descrevendo, ela conta com o testemunho de um tipo precioso de documento - o manuscrito autógrafo.
Os manuscritos autógrafos são actos linguísticos completos. A mão que os escreve está ligada à mente que os cria. O artífice que escreve o texto é também o seu autor intelectual. O que ele escreve pode ser lido sem cópia de permeio, nem transmissão adulterada, como se ouvíssemos palavras saídas da sua boca. Melhor ainda: a página de papel não só guarda o real texto que ficou, mas revela também, nas suas emendas e arrependimentos, a sugestão das outras hipóteses de texto que ele poderia ter sido. Episódios da criação intelectual e artística de um autor e da sua época são assim revelados e provados pela escrita dos autógrafos.
Neste ciclo, dedicado à língua de Portugal dos séculos XIX e XX, serão vistos, decifrados, transcritos e analisados nas peripécias da sua escrita alguns manuscritos autógrafos importantes para a história da nossa língua e da nossa literatura.